Na obra, a permissão vai além da força física, do ‘não’ explícito ou do estado de consciência.

Por Equipe Sameca

Nana é um dos mangás shoujo mais vendidos do Japão, que recebeu adaptações em anime e j-drama. Na trama, somos apresentados a duas personagens centrais que possuem o mesmo nome, mas que têm personalidades distintas.

Apesar das diferenças, várias coincidências aproximam as duas, que acabam se tornando muito íntimas. A obra aborda vários temas, como relações amorosas, carreira, traição, solidão e ansiedade, entre outros. Neste texto, focaremos nas experiências de Nana Komatsu, também conhecida como Hachi, tentando discutir o que seria consentimento.


AVISO
Este texto contém muitos spoilers e aborda material sensível.

Hachi é uma mulher que cresceu com a expectativa de casar. Em uma cena, ela menciona que, na infância, seu sonho era ser uma noiva bonita. Durante sua vida, ela passou por diversas paixões até encontrar uma de suas grandes “paixões”: um homem mais velho e casado chamado Asano, que, supostamente, teria 29 anos. Hachi, na época com 15 anos, desconfiava que ele mentia sobre sua idade. Aqui surge uma questão importante: como devemos entender a relação entre um homem mais velho e uma adolescente?

Pulando para um momento em que Hachi já é maior de idade, somos apresentados a Takumi, um músico que ela admira imensamente. Eles se conhecem e, em um determinado episódio, ele a convida para jantar. Desde o início, as coisas começam a escalar e Hachi, ciente do que está acontecendo, deseja se entregar ao ídolo naquela noite. No entanto, toda a cena é marcada por desconforto.

A trajetória até o quarto é desconfortável e, mesmo empolgada com o lugar, Hachi se sente esvaziada. É simbólico quando ela menciona que não consegue se levantar, como se tivesse sido violentada . Ela nunca disse “não” explicitamente, ela criou expectativas com a relação e até mesmo desejou uma conexão com ele naquele momento, ainda que fugaz.

Surge aqui uma outra questão importante: como devemos entender as situações em que os sentimentos são ambíguos? Não se trata de acusar Takumi, mas sim de refletir: não seria melhor se as pessoas confirmassem com seus parceiros se realmente eles estão à vontade, permitindo que a outra pessoa entenda se quer ou não seguir em frente?

Dando outro salto, vamos para a última cena que abordaremos. Hachi descobre que está grávida enquanto está em outro relacionamento. Ela está totalmente fragilizada pela perda de seu parceiro dos sonhos, confusa com o que está acontecendo e recém-recuperada de um mal-estar da gravidez. Desta vez, ela tenta recusar a intimidade ao Takimi, justificando que não quer irritar a colega. Em resposta, ela ouve: “sou eu que você não devia irritar” e fica paralisada.

Essa foi a primeira vez que Hachi foi explicitamente abusada na obra, e, geralmente, é nesta cena que relembramos os desconfortos de muitas das cenas que envolvem suas relações com Takumi ou Asano.

Essa obra é importante para abrir discussões sobre as nuances das interações humanas exatamente por ela deixar os acontecimentos muito nebulosos. O consentimento precisa ser discutido em pequenas nuances, para além da força física ou do “não” explícito ou até da pessoa estar inconsciente. Vamos tentar prestar mais atenção ao outro?

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