Existem muitos estigmas e teorias sobre o porquê de estamos vendo mais diagnósticos sendo feitos. E, não, não é uma teoria da conspiração.
Por Equipe Sameca

Nos últimos anos, tem ocorrido um aumento de diagnósticos de neurodivergências como o autismo e o TDAH. Esse movimento se destaca ainda mais quando falamos sobre os diagnósticos tardios (quando ocorrem na fase adulta).
Mas o que é um diagnóstico?
Um ponto importante para começar essa conversa é compreender o que é o diagnóstico, sua relevância e seus problemas. Isso merece um post dedicado apenas a essa temática, mas vamos abordar brevemente neste texto. O diagnóstico é uma classificação que permite que todos os profissionais e não profissionais compreendam uma série de padrões sob uma mesma linguagem. Ou seja, toda vez que se fala que alguém é autista, vem à mente uma série de características do campo biopsicossocial que se espera observar nessa pessoa.
Muito se discute sobre o papel do diagnóstico, se ele é ou não necessário, ou ainda se é benéfico ou maléfico. Não há maniqueísmo nessa dinâmica: ele é um meio de classificação que passa por transformações, está submetido à lógica capitalista e médica e, por isso, merece atenção e crítica ao ser usado. Mas ter um diagnóstico é importante, não só para os profissionais, como também para a própria pessoa que consegue compreender seus limites e encontrar maneiras de garantir sua qualidade de vida. Então, não se trata de ser bom ou mau, mas de como e por quem ele é utilizado. Como qualquer recurso de linguagem, o diagnóstico é um campo em disputa.
Dado o exposto, podemos, por fim, passar para o aumento dos diagnósticos do que compreendemos como autismo e TDAH e algumas das causas desse aumento.
Mudanças na caracterização dos transtornos e o avanço de pesquisas na área
Com o passar do tempo, novas pesquisas foram realizadas na área do neurodesenvolvimento, o que possibilitou alterações nos critérios diagnósticos e no próprio entendimento do autismo e do TDAH. Por exemplo, o autismo antes era considerado esquizofrenia infantil, tendo que, necessariamente, estar acompanhado de uma deficiência intelectual; depois foi descrito como Síndrome de Asperger, o que hoje entendemos como TEA nível de suporte 1. Os critérios foram se alterando à medida que o espectro foi sendo compreendido com mais profundidade, superando o estereótipo capacitista sobre como seria uma pessoa autista ou com TDAH.
Diagnóstico especializado e conscientização sobre o tema
A partir desses novos estudos, os processos de avaliação também ficaram mais especializados, o que possibilitou o desenvolvimento de instrumentos de avaliação mais precisos, como testes e escalas. Houve, ainda, um aprimoramento das próprias entrevistas realizadas durante o processo de avaliação, permitindo uma compreensão biopsicossocial maior de cada uma dessas neurodivergências. Além disso, deu-se mais atenção ao processo, incluindo outras áreas e profissionais capacitados para realizar um diagnóstico diferencial, por exemplo.
Acesso a informações
Com a divulgação de experiências de outras pessoas autistas e a quebra de alguns estigmas (como o TDAH associado ao perfil “bagunceiro” e o TEA ao “gênio matemático”, por exemplo), mais pessoas conseguiram compreender a experiência real dessa população. E, embora tenha havido, concomitantemente, uma onda de desinformações sobre o tema, é inegável o papel do acesso a essas informações na maior compreensão da neurodiversidade de forma menos estigmatizada. Isso contribuiu para que mais pessoas não só se identificassem, como também se sentissem à vontade para buscar uma avaliação neuropsicológica.
Não se esqueça!
Se você tem alguma dúvida, busque um profissional especializado para realizar sua avaliação.