Frantz Fanon foi um pensador, psiquiatra e revolucionário cujas obras e ideias tiveram um impacto profundo não apenas na psiquiatria e na psicologia, mas também nos movimentos de libertação anticolonial do século XX.
Nascido em 1925 na Martinica, então colônia francesa, Fanon vivenciou em primeira mão os efeitos psicológicos do colonialismo e do racismo, o que o levou a desenvolver uma crítica contundente às estruturas de opressão. Sua formação em psiquiatria, aliada à sua experiência na Argélia durante a guerra de independência, permitiu-lhe analisar como a violência colonial não apenas subjuga fisicamente, mas também afeta a psique dos colonizados.
Essa interseção entre psicologia e política tornou Fanon uma figura essencial para compreender os traumas coletivos gerados pelo colonialismo.

Sua obra demonstra como a psicologia não pode ser dissociada das condições sociais, políticas e históricas em que os indivíduos estão inseridos. Em seu livro “Pele Negra, Máscaras Brancas” (1952), ele explora como o racismo internalizado afeta a identidade e a autoestima dos indivíduos racializados, destacando a necessidade de uma abordagem terapêutica que considere o contexto de opressão.
Fanon argumenta que o processo terapêutico não pode ocorrer sem a luta política, uma ideia que desafia psicólogos a assumirem um papel ativo na transformação social. Essa perspectiva é crucial para organizações que buscam integrar a prática clínica à luta por justiça social – que só pode ser alcançada verdadeiramente em uma sociedade que tenha superado o meio de produção capitalista, que se baseia na exploração do gênero humano por outras pessoas.
Além disso, Fanon enfatizou o papel da violência como uma ferramenta de descolonização, tanto física quanto psicológica. Em “Os Condenados da Terra” (1961), ele discute como a violência do colonizador gera uma resposta violenta dos colonizados, não apenas como meio de resistência, mas também como processo de reconstrução da identidade e da dignidade.
Para profissionais da psicologia com engajamento político, essa análise oferece uma compreensão mais profunda dos traumas coletivos e das dinâmicas de poder que perpetuam o sofrimento mental. Fanon desafia os profissionais da psicologia a irem além do consultório e a se envolverem na luta contra as estruturas que perpetuam a opressão.
Por fim, Fanon é uma figura inspiradora para organizações políticas da área da saúde, como a SAMECA, porque sua obra transcende disciplinas e fronteiras, unindo teoria e prática em prol da emancipação humana. Ele nos lembra que a psicologia não é neutra: ou ela serve para manter o status quo ou para transformá-lo.
Ao incorporar as ideias de Fanon, psicólogos podem desenvolver abordagens mais críticas e emancipatórias, reconhecendo que a saúde mental está intrinsecamente ligada à justiça social. Sua visão continua a inspirar aqueles que buscam conciliar o cuidado individual com a luta coletiva por um mundo mais justo e equitativo, uma visão fundamental em um país do sul global como o Brasil, que se encontra na periferia do capital, é latino e tem sua maioria étnica negra.
A luta da Sameca é continuidade do que foi a luta de Frantz Fanon.